sábado, 16 de março de 2013

IMPLICAÇÕES SOCIOPASTORAIS DA PALAVRA: QUANDO A TRADIÇÃO VIRA CONTRADIÇÃO


IMPLICAÇÕES SOCIOPASTORAIS DA PALAVRA
NOTA DO BLOGUEIRO: Começaremos aqui, ou pelo menos faremos nossa tentativa, de uma série de reflexões, tendo como pano de fundo as leituras bíblicas de cada domingo, portanto a série será semanal, na sexta-feira ou sábado pela manhã, como essa, a ser postadas no nesse blog. Sabemos que nossas equipes de reflexão já fizeram a leitura e a reflexão partilhada do evangelho nas equipes e os sites e blogs estão cheios de homilias. O próprio portal da nossa diocese já o faz. Então queremos aqui apenas deixar mais uma contribuição tendo em vista o viés social e pastoral em que as CEBs estão.
QUANDO A TRADIÇÃO VIRA CONTRADIÇÃO
         O evangelho desse  5º domingo da quaresma (17 de março de 2013) nos traz como contexto uma realidade presente na sociedade de hoje, explorada inclusive em uma das novelas atuais, a prostituição.
         A visão estreita, egocêntrica, de uma religião baseada em leis e regras e não no amor, vê apenas a pessoa do prostituído, sim. Até o autor do evangelho usa o termo usado pelo senso comum: “trouxeram uma mulher surpreendida em adultério (Jo8,3)”. O certo seria, trouxeram uma mulher e um homem que estavam cometendo adultério. A princípio percebe-se que a sociedade no tempo de Jesus era extremamente machista.
Ainda hoje vemos essa desvalorização da mulher, ainda que tenhamos que reconhecer e comemorar alguns avanços. Era para apedrejá-la. Era a tradição que tinha virado lei. Mas Jesus percebia que havia uma contradição perante a tradição. A visão dos fariseus era a visão do senso comum e não uma visão baseada no senso crítico. Não via o entorno, apenas focalizava na vítima. Eram como burros com tapa-olhos.
Jesus tem duas atitudes interessantes:
            a)                          primeiramente uma atitude de transformação social, de profetismo, de questionamento da tradição, da lei, Ele escreve no chão para demonstrar que as leis precisam mudar sempre em direção ao homem. A lei deve estar a serviço da vida e não a vida a serviço da lei. É um questionamento do Poder Judiciário. Sim, o atual poder judiciário deve ser questionado em conjunto com o Poder Legislativo. Leis baseadas no senso comum são criadas para dar soluções prontas e superficiais a problemáticas sociais cada vez mais complexas. Veja atualmente a questão da redução da maioridade penal. Resolve o problema? Não. Vai apenas superlotar as já superlotadas penitenciárias que em Minas estão sendo privatizadas com o nome de PPP.  
b)                         A segunda atitude é uma atitude pastoral. Especialmente uma atitude que deve ser encarnada pela Pastoral da Juventude e pela Pastoral Familiar. A atitude da acolhida da pessoa, e não do seu pecado. É uma atitude de apontar caminhos, pois encontra-se nessa atitude um nexo com a primeira leitura (Is 43, 16-21). A pessoa que entende essa atitude, encontra esse caminho, essa verdade e portanto encontra a vida, novamente, como um rio no deserto, uma estrada no meio do nada, precisa ter a atitude de Paulo (Fl 3,8-14), experimentar a força da Ressurreição de Cristo em nossas vidas.
Aqui para nós, quantas vezes nós mesmos precisamos re-experimentar essa ressurreição, quantas vezes nossas vidas nos parece um deserto. Nós que acreditamos numa Igreja engajada nas lutas sociais, vivemos nas duas últimas décadas um deserto dentro da própria estrutura eclesial. Talvez agora haja um rio nascendo, uma estrada sendo construída. Mas como disse Paulo aos filipenses: “Esquecendo o fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Fl 3,13”
Esses são desafios que a Palavra de Deus nós traz nesse fim de semana:
  •     Denunciar a hipocrisia social da relação do nosso corpo com as leis. Todo pecado tem suas implicações sociais, drogas, prostituição, esfacelamento da família, etc;
  •     Denunciar um sistema judiciário que condena algumas pessoas e não debate situações;
  •     Rever nossas tradições. Quando a tradição vira contradição, é hora de ser contra a Tradição. É o que fez Jesus;
  •    Acolher as pessoas indistintamente sem acolher seu pecado;
  •       Perceber como Deus abre caminhos no deserto, como ele sacia nossa sede em meio às securas da vida.


Fé em Deus e caminhando sempre. Corramos direto para nossa meta, como nos ensina Paulo nesse fim de semana.

Fraternalmente, Cláudio.

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