BLOGUEIRO: Considero esse artigo que vou reproduzir a síntese daquilo que nós cristãos deveríamos estar refletindo nessa semana santa.
De nossas omissões, livrai-nos Senhor!
Publicado em março 28, 2013 por HC
[EcoDebate] Faz mais de
uma semana que ele foi eleito e apresentado à Igreja Católica e à humanidade
toda como o novo bispo de Roma. Desde então, muitos se encantam e reanimam com
as palavras e os gestos do Papa Francisco que há muito tempo estávamos
desacostumados a ver e ouvir de um pontífice.
Mas, também faz uma semana que não
param os comentários a respeito do passado do padre jesuíta Jorge Mario
Bergoglio durante a ditadura argentina: uns dizem que ele ajudou os presos e
acolheu pessoas perseguidas, outros o denunciam de ter “colaborado” com o
regime político daquele tempo, outros ainda, questionam que ele não confrontou
e não denunciou suficientemente a ditadura e por isso teria se tornado omisso.
Meus pais vivenciaram do início ao
fim a Segunda Guerra Mundial. O namoro destes dois jovens foi logo interrompido
em 1939, quando o José (20 anos) foi obrigado a entrar no exército para fazer
guerreia, primeiramente contra a França, em seguida, contra a Rússia donde
voltou sem o braço direito (a maioria dos soldados nem voltou vivo!).
Mesmo assim, casaram-se em 1947 e
lutaram para reerguer a vida – como todo povo alemão fez em pouco tempo; porém,
as chagas deste passado sangram nunca estancaram. Tanto em casa como na sala de
aula a nova geração dos filhos sempre levantou os mesmos questionamentos:
Porque vocês deixaram o Hitler chegar ao poder? Porque o povo todo e a Igreja
em especial não fizeram nada para derrotar o regime nazista? Porque vocês
deixaram acontecer que os judeus sofressem o holocausto? Porque vocês se omitiram?
– As respostas dadas nunca foram convincentes para nós…
Hoje estou convicto de que em vez de
julgar as omissões ou culpas dos tempos e das gerações passados – “não
relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” (Is 43,18)
era a 1ª leitura do 5º domingo da Quaresma – devemos prestar muita atenção no
que tange ás nossas omissões frente aos problemas atuais.
As críticas e questionamentos
dirigidos aos passados sombrios devem nos sensibilizar lançando e
comprometendo-nos para o futuro melhor! Deus nos livre a nos omitir, amedrontar
ou acomodar de nossa responsabilidade diante dos gritos dos empobrecidos,
injustiçados e da Mãe Terra que geme em dores de parto! Caso contrário, nossos
filhos e netos nos perguntarão: “Porque não fizeram nada, tão pouco?
Não sabiam? Mentira!”
Ao celebrar no primeiro dia do
conclave (12/03) a Eucaristia numa comunidade, perguntei ao povo como gostaria
que fosse o novo papa. As respostas foram diversas; acrescentei a minha: “Ele
tem quer ser bem ecológico, como alguém que leva água viva ao mundo”. É que
naquele dia as leituras falaram da água que saem das portas do templo e da
piscina de Betesda, ao mesmo tempo em que o noticiário mostrou outra vez
imagens chocantes da seca no Nordeste.
Os sinais que o papa Francisco
realizou nestes primeiros dias confirmam minha esperança! Ele demonstra-se
altamente sensível e não omisso á questão ecológica que será o norte de sua
missão:
·
Dia 16 de março, diante dos jornalistas,
ele disse: “E assim surgiu o nome no meu coração:
Francisco de Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que
ama e preserva a criação; neste tempo, também a nossa relação com a
criação não é muito boa, pois não?”
·
Na sua homilia na missa de inauguração o bispo de Roma interpretou a vida
de São José desta forma: “…a vocação de guardião não diz
respeito apenas a nós, cristãos, mas [...] é simplesmente humana e diz respeito
a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no
livro de Génesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito
por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as
pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das
crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na
periferia do nosso coração”.
Resumindo: Não importa (muito) o que
o papa fez ou deixou de fazer no passado, importa o que pretende fazer daqui
para frente. E nós, “guardamos com amor aquilo que Deus nos deu” (papa
Francisco)?
Diante da aprovação recorde da pessoa
(80%) e do Governo (63%) Dilma Rousseff que faz questão de realizar a qualquer
custo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e do recorde de vítimas da
estiagem no Nordeste e das enchentes no Sudeste – especialmente no Rio de
Janeiro –, tenho minhas dúvidas! Só não enxerga essa interdependência de fatos
quem é omisso à questão do aquecimento global! De nossas omissões,
livrai-nos Senhor!
“Guardar
Jesus com Maria, guardar a criação inteira, guardar toda a pessoa,
especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço
que o Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas para o qual todos nós estamos
chamados…: Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!” (Francisco, bispo de Roma)
Frei Johannes Gierse, franciscano,
mestrado em missiologia, atualmente em Boa Vista-Roraima.
EcoDebate,
28/03/2013
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